No último texto que escrevi aqui para o blog do Orgânico, falei da questão das finanças pessoais no universo feminino e como as mulheres não foram educadas a lidar com dinheiro, falar sobre ou achar que tinham o direito de cuidar de seu patrimônio (leia o artigo completo aqui).
É interessante observar que cada vez mais a questão do empreendedorismo está em alta no país, mas mesmo assim fala-se pouco sobre como a gestão financeira de sua vida e seu negócio estão intimamente ligadas. E é disso que vamos falar hoje.
Finanças pessoais e empresariais: duas faces da mesma moeda
Quem abre um negócio o faz geralmente por dois motivos: ou quer ter uma renda extra para complementar seu salário CLT, ou não encontra vagas no mercado de trabalho e precisa criar o próprio sustento.
Em ambos os casos, num primeiro momento o investimento inicial vai vir obrigatoriamente de suas reservas pessoais, a não ser que ele já de saída tenha algum tipo de investidor externo. Mas, via de regra, a gente começa com aquilo que tem.
Como evitar o perigo de misturar dinheiro pessoal com empresarial
É neste momento que precisa começar a haver uma separação do que é dinheiro da empresa e do que é dinheiro da casa.
Quando falamos de um estabelecimento comercial com funcionários, ou na venda de produtos físicos, essa separação deveria ser automática, pois entram aspectos da gestão financeira que precisam ser feitos separadamente da organização das finanças pessoais.
Para muito além das planilhas, calcular direitinho quanto que cada área da sua empresa demanda de investimento e gera de recursos é o que vai permitir que ela cresça, que os ajustes necessários sejam feitos mensalmente, que você não tenha prejuízo e esteja com suas obrigações em dia.
O problema começa quando a gestão aqui é mal feita e você começa a colocar o dinheiro da casa para cobrir eventuais rombos. O raciocínio é simples, mas perigoso: “é tudo meu mesmo, então tudo bem eu flexibilizar”.
Essa linha de pensamento não é totalmente errada, mas o que acontece na maioria dos casos é que a regra vira exceção.
Você passa a afrouxar os controles da empresa sabendo que tem de onde tirar caso falte, até o dia em que você não sabe mais para onde o dinheiro está indo. Só sabe que está acabando, e rapidamente.
A relação emocional com o dinheiro
A relação que temos com dinheiro é totalmente emocional e como são pessoas gerindo empresas, os maus comportamentos apenas mudam de CPF para CNPJ, com os mesmos efeitos.
Se você não sabe quanto custa sua vida, se é uma criatura de fé e vai levando os meses na base do “tudo vai dar certo” e, ao invés de olhar com atenção a fatura de seu cartão de crédito apenas reza para que ela não chegue com muitos dígitos, acredite: você não está pronto para ter um negócio.
Se dói olhar as suas finanças pessoais, as da empresa vão doer mais ainda, uma vez que é de lá que você deveria tirar seu sustento.
A educação financeira pode transformar sua vida
Existem centenas de profissionais competentíssimos que podem ensinar você a lidar melhor com dinheiro, aprender sobre investimentos, diversificar sua carteira e afins.
Mas minha proposta aqui começa muito antes disso: proponho que você faça um exame de consciência e responda a si mesmo, com muita honestidade, às perguntas abaixo:
- Você sabe qual o seu custo de vida mensal?
Não precisa ter uma planilha toda colorida e preenchida, mas você precisa listar e somar todos os seus custos, da moradia ao lazer, passando pela escola das crianças, plano de saúde, gastos com pets, etc. Para você não esquecer nenhum item, fica aqui de sugestão esse material da XP Investimentos.
- Você vive de acordo com suas possibilidades?
Isso significa saber se você gasta menos do que ganha. Simples assim.
- Caso a resposta da pergunta anterior seja negativa, você estaria disposto a baixar seu padrão de vida para ter tranquilidade financeira? (é aqui que o bicho começa a pegar)
- Para baixar seu padrão de vida, recuperar algum fôlego financeiro e se restabelecer, você teria coragem de dizer não aos pedidos de seus filhos? Isso vai da roupa nova à viagem de final de ano com a escola. Dificílimo, mas pode ser necessário.
- Caso você não esteja disposto a baixar o padrão, a abrir mão de prazeres imediatos em prol de um futuro tranquilo e um negócio sustentável, qual seria a solução viável para que você reorganize suas finanças e saia do vermelho?
Pois é. A pergunta 5 não tem resposta, a não ser que sua ideia seja ganhar na loteria ou assaltar um banco.
O problema de abrir mão de algum status financeiro está justamente na crença de que somos validados pelo que temos e pelo que parecemos ter, e que há vergonha em baixar o padrão. Não há. Vergonha é uma palavra que nem deveria entrar nesta equação.
O que está em jogo aqui é a sustentabilidade do seu negócio, que vai permitir que você viva uma vida digna e segura, e ofereça a si mesmo e à sua família a paz de espírito que só quem cuida do próprio dinheiro tem.
Finanças e saúde mental andam lado a lado
Se você não sabe como organizar a casa, busque ajuda no mercado (estamos aqui para isso também), informe-se, converse abertamente com sua família sobre dinheiro. Eduque-se sobre o assunto para que você possa educar seus filhos e para que eles façam melhores escolhas, lidem melhor com as próprias limitações e sejam muito mais prósperos e realizados.
O mais difícil é responder o mini-questionário ali em cima e admitir que há um problema. Trazer as dificuldades para a consciência, admitir que precisa mudar e dar os passos para isso é o único caminho possível. Quando se fala de dinheiro, de segurança financeira, e de saúde mental (você conhece alguém endividado feliz?), é sua disponibilidade de aprender e ter disciplina que vai virar o jogo a seu favor.
Deixo aqui um vídeo bem simples que pode ser útil para você começar a entender melhor como funciona a mentalidade por trás do equilíbrio financeiro: clique aqui.
Coragem, e boa sorte!
Autora: Fernanda Damy