Cabeça de dono: as subjetividades da escolha de uma equipe que compra sua ideia.

Cabeça de dono: as subjetividades da escolha de uma equipe que compra sua ideia.

agosto 31, 2021

Por Fernanda Damy Haybittle, do Studio FDH

Quando chega o momento de crescer o negócio e assumir uma nova contratação, este processo é muito mais delicado para donos de pequenos negócios do que para médias e grandes empresas.

Os grandes já tem marcas consolidadas e processos bem desenhados.

Cada adição ao time geralmente têm funções bem definidas e, a não ser que se trate de um cargo estratégico, sua opinião sobre a marca ou seu engajamento com a empresa pouco importam. São um desafio pro RH, claro, mas precisa haver uma situação muito ruim instalada para que haja impactos financeiros no negócio.

O cenário é bem diferente quando falamos de um cargo operacional num negócio menor, onde cada gota de suor impacta diretamente o resultado da empresa.

Crescer significa assumir riscos e tomar decisões muitas vezes estranhas ao fazer daquele empreendedor menor, que trabalha sozinho e não sabe delegar.

O dia a dia consome e até treinar alguém para ser seu braço direito é puxado na correria do trabalho em si, e é justamente que o fator “amor pela camisa” é tão importante nestes casos.

Quem se candidata a uma vaga numa empresa pequena, de até uns 10 funcionários, precisa gostar do dia a dia do negócio. Não dá para ser secretária de pet shop e não amar bichos: gostar é pouco, tem que amar mesmo, pois além dos pets fofinhos que vem só para banho e tosa, tem a sujeira, os pelos, o cheiro, tudo o que envolve o trabalho com criaturas vivas.

Cuidar do marketing de uma marca de produtos veganos pode ser mais desafiador para um carnívoro inveterado, já que o discurso da marca vai muito contra aquilo que ele tem como filosofia de vida.

O processo seletivo nestes casos precisa ir muito além das habilidades técnicas daquele profissional: ele precisa acreditar na sua ideia, ver possibilidade de crescer junto com você e sua marca, gostar muito do seu ramo de atuação e tipo de rotina. Esta escolha passará por questões mais profundas e complexas, como propósito de vida e valores éticos, pois esta construção é sempre mais lenta e precisa de uma dedicação super mais intensa do que numa empresa já estabelecida e fluida.

O desafio do pequeno empreendedor é justamente a retenção de talentos: empresas pequenas não conseguem bater os salários e os benefícios das maiores, por isso alternativas como participação nos lucros ou societária podem ser uma alternativa para trazer mais gente de peso que possa se dar ao luxo de esperar a empresa amadurecer e dar bons frutos.

Os combinados precisam ser claríssimos e os riscos muito bem apresentados, pois empresas em decolagem tem muito mais risco do que as já em velocidade de cruzeiro.

Pergunte-se: por que alguém viria trabalhar comigo, ganhando pouco e se cansando muito? O que eu tenho para oferecer, de ambiente de trabalho à estilo de vida, que possa interessar alguém a ponto de assumir os mesmos riscos que eu sem ser dono do negócio?

Esqueça trabalhar apenas para se sustentar minimamente, especialmente considerando o público mais jovem. Eles estão muito mais preocupados com os seus porquês, com os impactos do seu negócio na sociedade, com sua filosofia de vida e viés político (sim, isso conta).

Seja como for, a melhor forma de tratar este assunto é conversar com especialistas em desenvolvimento de carreira para poder oferecer ao seu novo funcionário alternativas realistas e competitivas, alinhadas ao mercado e às suas possibilidades de crescimento.

Ninguém disse que seria fácil, mas desafios sempre nos fazem crescer, então avante!

O mito da capa de revista: entre uma ideia de negócio e o sucesso do seu empreendimento tem um mar de acontecimentos possíveis, muito trabalho e muito perrengue.
"Como saber se empreender é sua praia?"