Por Fernanda Damy Haybittle, do Studio FDH
Viver em tempos de banda larga significa acelerar o tempo das coisas. Queremos sempre mais, mais rápido e melhor.
Consumir conteúdos pela internet – nossa principal fonte de informação hoje em dia e provavelmente para todo o sempre – traz ainda mais essa sensação de que o mundo anda rápido demais, as pessoas conseguem fazer mil coisas em pouquíssimo tempo e que grandes projetos podem ser concluídos num clique, desde que você tenha ideias brilhantes e um Instagram bombado.
NÃO.
Não funciona assim e no mundo dos pequenos negócios menos ainda: quem empreende de forma autoral, para ter uma empresa menor mas que garanta um sustento geralmente não tem rios de dinheiro para investir e, consequentemente, vai ter que esperar a coisa amadurecer e dar bons frutos no tempo dela.
Mas e todas aquelas histórias que vemos nas revistas e nos perfis que falam de pequenos negócios como se a estrada fosse simples?
“Apaixonada por moda, empresária tinha três vestidos e fez na pandemia uma empresa de 1.5 milhão de faturamento mensal”
“Pai de três, ex-cozinheiro é demitido, faz coxinhas para vender e hoje fatura 2 milhões por mês”
“Fui demitida e criei um blog para me curar da depressão. Hoje tenho 5 milhões de seguidores e transformei minha dor em uma empresa milionária”.
Não que histórias assim não sejam possíveis, elas só estão incompletas e não contam todo o sangue, suor e lágrimas que vem junto quando tentamos abrir uma empresa, somos demitidos, desvalorizados, pedimos dinheiro emprestado para comprar os ingredientes da coxinha.
Ou, ainda, não contam sobre a ajuda que a moça do blog teve via crowdfunding para criar sua empresa, com um aporte financeiro substancial para que ela cuidasse de si própria para depois poder cuidar dos outros.
Não há mágica no empreender e o que mais frustra quem não tem recursos externos para fazê-lo é justamente esta aura de magia que envolve boas ideias e enredos de sucesso, como se a ponte que leva um a outro fosse feita de flores.
O tempo médio de maturação de um negócio sólido é de 2 a 3 anos, no mínimo. Muitas não aguentam e fecham as portas sem nem completar 24 meses.
Aporte de investimentos é raro e mesmo que aconteça, não é no amor: todo investimento prevê retorno e quem recebe o aporte precisa entregar os combinados, adicionando o fator “muita pressão” ao negócio.
Não tenho dúvidas de que, mesmo num país economicamente instável e juridicamente inseguro, o futuro é do empreendedorismo. Se tem uma coisa que temos é coragem. Ser brasileiro não é para amadores e tantas crises políticas e sociais também nos preparam para muitos cenários diferentes, dando ao empreendedor uma resiliência que faz toda diferença para quem quer ter sua independência e ser seu próprio patrão.
Temos milhares de histórias de sucesso que seriam de grande valia se contadas na sua integralidade, levando conforto e esperança para quem está começando essa jornada.
O que podemos afirmar é que cada história é única e, ao invés de cair no conto da capa de revista, você deve traçar suas metas e definir o que é sucesso para você e sua empresa, e persistir enquanto acreditar que está num caminho próspero e realista para seu negócio, para você e sua família.